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PESQUISA SOBRE IMPACTOS CLIMÁTICOS NO BIOMA CAATINGA ACENDE ALERTA

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O impacto das mudanças climáticas em áreas selecionadas do bioma caatinga foi tema da pesquisa Climap realizada pelo Centro de Estudos Georreferenciados (CIEG) da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), com cooperação técnica da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e da Universidade Federal de Campina Grande/PB (UFCG). O relatório técnico final da avaliação foi entregue no fim do ano passado. O trabalho de pesquisa durou três anos, de 2017 a 2020, contando com a participação de bolsistas, estagiários/as, pesquisadores/as, colaboradores/as e professores/as da Universidade de  Toulouse, na França, e da Universidade de Buenos Aires, na Argentina. Durante esse período, artigos foram apresentados em congressos, além de publicados.

Os estudos aconteceram nas novas unidades de conservação da caatinga na Bahia, em lagoas do estado de Alagoas e na região geográfica imediata de Petrolina, em Pernambuco. O pesquisador da Fundaj, Neison Freire, esteve à frente da pesquisa. “Foram selecionadas três áreas-piloto, com a aplicação de diferentes metodologias que pudessem detectar possíveis impactos das mudanças climáticas tanto no meio ambiente como em aspectos agrícolas em áreas rurais”, ressalta Neison.No futuro, os pesquisadores farão um estudo em comunidades de baixa renda nos fundos de vale na cidade de Maceió, capital de Alagoas.

Investigação Bahia: As duas unidades mais novas de conservação de proteção integral da administração federal do bioma caatinga, que ficam no oeste baiano, na margem direita do Rio São Francisco, o refúgio da vida silvestre da Ararinha Azul e o Parque Nacional do Boqueirão da Onça, sofrem graves ameaças. Perigos em relação à conservação da biodiversidade por meio tanto do desmatamento e da caça ilegal como também da mineração.

”Existe muita mineração ilegal numa área muito cobiçada, principalmente a do Parque Nacional do Boqueirão da Onça, que tem uma vasta caatinga preservada, mas com ameaças nas áreas dos entornos do parque”, alerta Neison. De acordo com o pesquisador da Fundaj, há também um conflito muito grande com a geração de energia eólica em relação à localização dos aerogeradores. “É uma área muito remota, então o barulho dessas torres tem afugentado a principal expressão da fauna local, que é a onça pintada. Ela afugenta porque não está acostumada com o barulho, inclusive é um animal muito sensível por ser caçador. As onças fogem para as fazendas, matam o gado e depois são mortas pelos fazendeiros”, aponta.

AlagoasTambém foram estudadas as lagoas do estado de Alagoas na região do bioma caatinga, onde se pesquisou a dinâmica dos corpos hídricos superficiais. A partir de imagens de satélite de 30 anos passados, foi detectado o desaparecimento de aproximadamente 1400 pequenos açudes. “O fato mostra o impacto das mudanças climáticas no sistema de açudagem do sertão alagoano em áreas de alta vulnerabilidade social. Embora o número de novos açudes seja expressivo, mais de 2300, o que preocupa é o desaparecimento de açudes, em área de estresse por déficit hídrico, nas regiões muito pobres”, avisa Neison.

Foi verificado também que nas margens do Rio São Francisco não existem mais o sistema de lagoas marginais que permitia a cultura do arroz.  “Não encontramos mais o arroz nas feiras porque esse sistema de lagoas desapareceu, principalmente com a construção da hidrelétrica de Xingó. Fizemos uma amostragem em sete lagoas e vimos que há uma diversidade de situações, que não são apenas das mudanças climáticas. Tem açude da década de 40, por exemplo, que está desaparecendo, mas nunca foi utilizado devido a sua alta salinidade”, analisa. 
Professora da UFAL, Débora Cavalcanti enfatiza a questão da água dos açudes de Craíbas, município de Alagoas, para os pequenos produtores locais. “Temos hoje um grande número de pequenos açudes. Esse aumento beneficiou os pequenos proprietários, gerando assim uma maior renda. Além disso, a área é importante para a formação e emprego de jovens profissionais, o que mostra a necessidade e o acerto de políticas públicas de interiorização das universidades”, declara.

Pernambuco o terceiro e último local de estudo foi a região geográfica imediata de Petrolina, que abrange seis municípios do Sertão pernambucano. Na avaliação, uma técnica de sensoriamento remoto foi utilizada, conhecida como albedo de superfície, para extrair um cálculo do balanço de energia da superfície terrestre dos últimos 30 anos. “É um cálculo muito preciso, segundo especialistas mundiais, para monitorar as mudanças climáticas em regiões específicas da superfície terrestre”, afirma Neison. Segundo a pesquisa, foi atestado que há uma contribuição maior da radiância da energia eletromagnética dos alvos em direção à atmosfera. “A radiação solar, que interage com a atmosfera, chega à superfície, com parte sendo absorvida e outra parte refletida para a atmosfera novamente. Isso contribui para o aquecimento global. Esse período de 30 anos coincide com a expansão da fruticultura irrigada da região”, pontua.

Do ponto de vista ambiental, detectou-se  a mudança de extensas áreas com vegetação nativa de caatinga em áreas irrigadas e cultivadas por uma única cultura. Neste aspecto, a pesquisa identificou a perda de biodiversidade da caatinga na região em troca da geração de riqueza proporcionada pela fruticultura para exportação. “O estudo mostrou o avanço e o balanço da energia eletromagnética na conversão de áreas naturais de caatinga em áreas irrigadas, o que demonstra a necessidade de aumentarmos as áreas de proteção ambiental para equilibrar os impactos das atividades econômicas, especialmente quanto ao sequestro de carbono e a perda de biodiversidade”, destaca.

“Essas áreas têm contribuído para o aquecimento global, considerando esse aporte maior de energia que deixa de ser absorvida pelas plantas e pelo solo, sendo refletida na atmosfera. O fato é que detectamos o avanço da fruticultura irrigada ao longo do rio São Francisco em Santa Maria da Boa Vista e Orocó, surgindo novas oportunidades de negócios e de desenvolvimento econômico, apesar das consequências para o meio ambiente e as contribuições para as mudanças climáticas”, completa Neison.

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